Desenvolvimento Regional e Logística

Contribuições para o aumento da competitividade das cidades.

Em um país de dimensões continentais e ainda com muitos bolsões de pobreza, se faz necessário estruturar ações de planejamento que levem ao desenvolvimento regional. Aqui destaco dois objetivos que ainda são rotineiramente confundidos: CRESCIMENTO e DESENVOLVIMENTO. E há que se observar que o primeiro não garante o segundo, pois crescer é condição necessária, porém não suficiente para gerar desenvolvimento. Uma saída que oferece bons resultados é a estruturação das competências por regiões. São ações que dependem da participação da população, organizada através de entidades de classe, associações civis representadas e do governo. A união desses três setores podem ser ambientadas nas associações de municípios, entidades já existentes, que são legitimas para colocar em prática os planos de desenvolvimento regional.

Não pretendo aqui comentar sobre a qualidade dos trabalhos destas associações, mas quem se dedicar a pesquisá-las, terá a sensação de que poderiam evoluir muito e assim contribuir com mais efetividade para a melhoria das condições de vida da população em geral. Ademais, neste quesito, passa-me também a sensação de que o governo federal, com todo seu aparato de informações e de articulações nacionais e internacionais, poderia ajudar na formulação dos planos estratégicos de desenvolvimento regional – PED Regional -, apoiando tecnicamente a manutenção destes fóruns nas diversas associações, e cuidando sempre, para que estas não fiquem a mercê somente de seus dirigentes ou de prefeitos, mas que a sociedade civil esteja realmente integrada e que a população possa ter acesso de forma a acompanhar os rumos do desenvolvimento pretendido. Quem desejar saber mais, sugiro consultar os convênios do governo federal com os municípios –  http://www.portaldatransparencia.gov.br/convenios.

A idéia central é buscar sinergias que podem ser identificadas através da realização do diagnóstico de potencialidades regionais e debilidades locais, de forma participativa com os representantes dos municípios do contexto regional. Assim, uma cidade com vocação eminentemente turística, muitas vezes carece de serviço básicos como saúde ou infraestrutura, enquanto que uma cidade vizinha, sem nenhum atrativo turístico, possui boas chances de fazer da indústria do conhecimento seu foco de desenvolvimento. A proposta é levantar esses pontos positivos e/ou negativos, a fim de que essas cidades possam se desenvolver em conjunto, fazendo com que a competição deixe de existir, levando o desenvolvimento a toda a região de forma a se utilizar da complementaridade de cada município.  E, a partir do diagnóstico inicial, deve-se instituir os índices de desenvolvimento relativos à região, como, por exemplo, o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, densidade populacional, entre outros. O planejamento de cada município, em especial o PDD – Plano Diretor de Desenvolvimento deve ser elaborado considerando-se suas potencialidades e debilidades. Este posicionamento atuante faz ainda com que as ações políticas tenham foco no curto, médio e longo prazos, pois estarão embasadas em desejos e necessidades de uma sociedade mais atuante. Estes são diferenciais competitivos que podem facilitar a interação de empresas com as municipalidades e/ou polos regionais quanto às decisões de investimentos.

Quando um município ou região tem sua estratégia de desenvolvimento lastreada em Logística Territorial,poderá aproveitar de modo mais racional e eficiente seu espaço físico e terá mais chances de se tornar alvo de interesse. O resultado é o aumento da atração de empresas sem, contudo, depender de modo expressivo de concessões e de incentivos fiscais. Os empreendedores adquirem mais confiança em efetuar investimentos e a comunidade se compromete com resultados de médio e longo prazos. Hoje, o que vemos é guerra fiscal, a falta de planejamento adequado, fazendo com que as concessões de benesses ultrapassem limites aceitáveis. Os governos cedem áreas, realizam infraestrutura e oferecem incentivos e mesmo assim podem ser considerados insuficientes para que as empresas decidam pela implantação de suas unidades na região. E assim, o mais comum é o aumento das concessões, para finalmente atrair os investimentos de empresas interessadas. Mas esta pratica pode provocar resultados bastante negativos no médio e longo prazos:

  • A piora da qualidade de vida– as cidades podem se tornar incapazes de suportar fluxos migratórios consideráveis, com impactos em moradias, saneamento, educação, segurança, sistema viário, assistência medica, serviços públicos em geral, entre outros, o que, por sua vez, impacta negativamente nas finanças municipais. É muito comum, por exemplo, o aumento expressivo de avarias no sistema viário, provocado pelo aumento do fluxo de veículos, em vias que não adequadas para suportar o aumento de demanda;
  • O aumento dos custos operacionais– as empresas podem ser levadas a absorver custos acima do previsto, devido à inadequação local, e assim perder competitividade em seus mercados de atuação;
  • O aumento do custo de vida local– o crescimento rápido e não acompanhado por ações de desenvolvimento adequadas, levam ao aumento de custos generalizados e perdas consideráveis, como por exemplo, em mobilidade urbana.

E assim, as próprias empresas identificam que as condições já não atendem às suas necessidades e podem tomar a decisão de transferir parcialmente ou na sua totalidade seus negócios para outras localidades mais atrativas. Enfim, regiões cujos municípios possuem adequados planos de desenvolvimento, lastreados em Logística Territorial, conseguem gerar competências locais fundamentadas em políticas públicas bem elaboradas e de efeito, que permitem a geração de diferenciais competitivos de longa duraçãolastreados em complementaridades regionais, sem depender em demasia de incentivos fiscais. Concluindo: planos de desenvolvimento lastreados em Logística Territorialfacilitam a execução de ações efetivas visando garantir a competitividade local e regional.

Artigo escrito por:

Nyssio Ferreira Luz

Graduado em Engenharia Mecânica pela UFMG, Especialista em Planejamento e Gestão pela UFU, Mestre em Logística de Transportes pela UFSC e Conselheiro pela FDC.UFU – Universidade Federal de Uberlândia – MG. É membro do CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals – USA; Membro do GIE – Grupo de Intercâmbio Empresarial – Belo Horizonte – MG; Membro da Câmara da Indústria de Energia – FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais; Experiência como executivo em empresas como VALEP, PETROFÉRTIL e Martins. Atualmente é consultor e diretor do IBRALOG – Instituto Brasileiro de Logística.

By | 2018-08-06T20:46:34+00:00 agosto 6th, 2018|Logística, Logística Territorial|