Embalagem…este é sem duvida um elemento que afeta a todos integrantes de todas cadeias de suprimento indistintamente e que, muito além de cumprir seu “papel” fundamental que é o de manter a integridade dos produtos, pode contribuir para reduzir ou aumentar a eficiência das cadeias de suprimento, quando observadas holisticamente. A indústria de embalagens é atualmente uma das mais desenvolvidas quer seja em aspectos tecnológicos ou sociais.
Dentre muitos “papéis”, a embalagem pode ser grande motivadora do impulso de compra nos pontos de venda, como também a solução de sobrevivência daqueles que atuam nos processos de logística reversa. Seu desenvolvimento afeta desde o profissional de marketing até o catador de resíduos nas ruas. É um elemento que materializa inovações tecnológicas, que une competências tais como, por exemplo, marketing, vendas, engenharia e logística, em todas as cadeias de suprimento.
Em cadeias mais complexas é necessário conhecer sua contribuição até o momento do uso pelo consumidor final e, não menos importante, a sua destinação pós-consumo. Meu comentário sobre impactos das embalagens aqui se baseia em trabalhos vivenciados em cadeias de suprimentos, em dois estágios, sendo: 1º) relação fábrica – distribuidor – varejo; 2º) relação fornecedor – fábrica.
As cadeias de suprimento de varejo – retail supply chain– tendem a serem mais extensas, complexas e onde as embalagens são desenvolvidas com forte viés de marketing e vendas, pois têm contato direto com o consumidor final, enquanto que nas de insumos fabris, as embalagens possuem forte viés de engenharia, uma vez que são desenvolvidas para atender as demandas de um processo produtivo subsequente, com grande probabilidade de reutilização.
Os impactos das embalagens nos processos logísticos são frequentemente menosprezados e sua análise na maioria dos casos é muito fragmentada, devido à falhas na integração das empresas componentes de cadeias de suprimento. É como se o “problema” da embalagem fosse unicamente de quem a fornece, sem observar seu trânsito durante os processos logísticos subsequentes à fabricação o que, consequentemente, contribui para que “custos ocultos” proliferem. Para aumentar o entendimento do “papel” da embalagem é fundamental ter a consciência da interação física entre os sistemas de embalagens e os processos logísticos, ou seja é necessário colocar a lupa nas operações. Assim os impactos de decisões sobre embalagens nas cadeias de suprimento, podem ser mais facilmente identificados.
O aumento da eficiência e a redução de custos podem advir de melhorias nas embalagens, nos processos logísticos ou em ambos concomitantemente. Profissionais de logística que são responsáveis pelos processos logísticos enquanto que os profissionais de embalagens que são responsáveis pelos sistemas de embalagens, precisam interagir para que a solução seja desenvolvida de forma ampla, observando-se todos os processos e componentes das cadeias de suprimento. A partir da visão integrada de ambas as competências pode-se atuar na melhoria do desempenho das cadeias de suprimento. As embalagens são classicamente denominadas como: Primarias – aquelas que estão em contato direto com o produto; Secundárias – aquelas que contem uma ou mais embalagens primárias e Terciárias – aquelas que contem uma ou mais embalagens secundárias. Aqui recomendo ampliar o conceito de embalagens e considerar também os dispositivos de unitização, como por exemplo, racks, paletes e contentores.
As soluções de unitização precisam ser adequadas a cada etapa. Como exemplo pode-se unitizar embalagens a partir de uma fábrica até o distribuidor ou até o varejo, ou a partir de um fornecedor de insumo até uma fábrica. As soluções são as mais variadas, podendo chegar até mesmo a eliminação de algumas delas, com impactos positivos de redução de custos e de impactos ambientais. Cito alguns exemplos de ganhos em trabalhos de adequação de embalagens em que tive oportunidade de atuar: redução de custos de transporte da ordem de 30%; redução de 98% na quantidade de retrabalhos; redução de 80% no índice de avarias; redução de 35% na geração de resíduos (em peso). Os processos de manufatura, armazenagem, recebimento, seleção de pedidos, expedição, reuso, reciclagem e transporte, trazem em si demandas distintas, quer sejam relativas às características físicas das embalagens como também quanto às tecnologias de unitização e de informações de automação (RFID, Códigos de Barras, cores, etc.).
Cada solução de adequação de embalagens precisa leva em conta as interfaces entre os processos citados, para se evitar os custos ocultos ou simplesmente levar o problema à jusante ou à montante nas cadeias de suprimento. Somente com a integração das visões e ações de profissionais de marketing, vendas, embalagens e logística, pode-se desenvolver soluções adequação de embalagens com vistas à otimização de cadeias de suprimento. Concluindo, pode-se estimar o grau de eficiência de uma cadeia de suprimentos ou o grau de desenvolvimento de uma sociedade com base nas embalagens por ela utilizadas.
Artigo escrito por:
Nyssio Ferreira Luz
Graduado em Engenharia Mecânica pela UFMG, Especialista em Planejamento e Gestão pela UFU, Mestre em Logística de Transportes pela UFSC e Conselheiro pela FDC.UFU – Universidade Federal de Uberlândia – MG. É membro do CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals – USA; Membro do GIE – Grupo de Intercâmbio Empresarial – Belo Horizonte – MG; Membro da Câmara da Indústria de Energia – FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais; Experiência como executivo em empresas como VALEP, PETROFÉRTIL e Martins. Atualmente é consultor e diretor do IBRALOG – Instituto Brasileiro de Logística.