Em momentos de crise temos a oportunidade de mergulharmos com mais profundidade em nosso self e, por conseguinte, questionar nossas ações, planos, compromissos, enfim, tudo que diz respeito a nós no contexto da sociedade em que vivemos. A mudança mais importante é a de atitude e também a do nosso modelo mental.
Assim como nós, as organizações também devem questionar seu real valor para o mundo e a humanidade. No contexto dessa crise provocada pelo avanço acelerado do COVID-19, as organizações precisam atuar em duas frentes: a da adequação das rotinas e a da preparação para a fase seguinte. Adequar as rotinas para cuidar da sobrevivência imediata dos negócios não basta. É preciso ir além, vislumbrar o que virá em seguida, entendendo que uma nova ordem, onde os hábitos dos consumidores terão mudanças significativas, que implicam na revisão ou até mesmo a substituição dos modelos de negócios até então utilizados. Devemos lembrar que os ecossistemas de negócios já estão, há décadas, em constante e acelerada mutação e com adição significativa de incertezas, o que aumenta o desafio e exige agilidade das organizações para se adaptarem aos tempos vindouros.
Essas alterações demandam atenção e participação intensa de toda estrutura organizacional, envolvendo colaboradores, stakeholders,sharehoders e membros dos conselhos. Uma recomendação que faço para servir de diretriz a todos componentes é o adotar tripé Ambiente – Sociedade – Governança (ESG, na sigla em inglês, como é conhecido internacionalmente). Este direcionamento torna possível o detalhamento de responsabilidades em todos os níveis e contribui de forma eficaz para o desenvolvimento de uma cultura organizacional progressista, inovadora, tenaz e resiliente, qualidades necessárias para responder de forma ágil às mudanças e, certamente, preparar as organizações para novas tendências de mudanças nos ambientes de negócio. Esta jornada intensa deve ser sempre apoiada pela Gestão de Pessoas, ou Comitê de Pessoas, a fim de prover apoio nas necessidades e demandas das equipes, desde questões emocionais até as operacionais e financeiras, mantendo o adequado equilíbrio nos ambientes de trabalho presencial e virtual.
Uma alternativa prática é destacar as equipes em grupos de trabalho, com visões distintas: o grupo “NOW” com colaboradores que cuidam das rotinas, adequando seus processos, reavaliando investimentos, revisando orçamento, intensificando relacionamentos com seus clientes e dialogando e apoiando os fornecedores integrantes das cadeias de suprimento onde atua, para que os negócios continuem funcionando; o outro grupo, o “SOON”, com colaboradores que cuidam de observar as tendências e assim pesquisar, identificar, expandir a visão dos ecossistemas de negócios com “farol alto”, analisar probabilidades, causas e efeitos, estruturar cenários, analisar sinergias internas e externas e detalhar as ações estratégicas que resultarão em novos modelos de negócio, devidamente adequados à era digital e, sobretudo, sob a égide das competências de MARKETING. Trata-se de estruturar planos estratégicos dinâmicos, com destaque para a jornada de alinhamento de “mentes e corações” de todos componentes da organização (do Nível tático ao Conselho de Administração). Aqui cabe salientar que modelos de digitalização de processos ou negócios, baseados tão somente na redução de custos e que muitas das vezes contribuem para dificultar o acesso de clientes e consumidores, não tem mais espaço, pois impactam negativamente na CONFIANÇA.
Assim como nos anos 80 presenciamos mudanças de atitude dos consumidores de LEALDADE para PREFERENCIA, as mudanças agora precisam ser feitas com foco no atributo CONFIANÇA, através de todos os canais de contato com clientes e consumidores. Esse atributo é facilmente prejudicado, nesta era onde a sociedade esta cada vez mais conectada. Restabelecer a confiança é imperioso e este processo deve ser feito em bases sólidas, não se limitando apenas em otimismo ou propaganda. Isto pode mudar a natureza do que consideramos como sendo produtos ou serviços Premium.
As empresas que mantem contato direto com consumidores finais, precisam ter atenção redobrada, pois a CONFIANÇA é colocada à prova de modo intenso e com impactos instantâneos. Precificar ou elevar o preço de produtos e serviços sem justificativa plausível, pode facilmente provocar críticas e indignação por parte de clientes e admiradores e, consequentemente, impactar negativamente no conceito das marcas. Temos exemplos recentes de empresas fabricantes e varejistas dos segmentos do varejo alimentar, Health Care e de vestuário que ficaram com imagem de “desonestos” por praticarem preços abusivos e perderam uma ótima oportunidade de se posicionarem de forma solidária com seus clientes e consumidores. As organizações precisam deixar, de forma inconfundível, a seus clientes e colaboradores que sua razão de existir é a de contribuir para o bem comum e que seu crescimento é o resultado de atitudes que se norteiam por honestidade, equidade e respeito às boas práticas.
O mundo e a humanidade passam por período de transformação generalizada e acelerada, gerando incertezas que nos levam a rever e atualizar conceitos de gestão empresarial. As organizações que souberem interpretar esses sinais e se adaptar com agilidade, terão melhores condições de evoluir e sobreviver. Esta é a hora da verdade, que coloca à prova as organizações por inteiro, do segurança na portaria ao ocupante do cargo mais importante.
Artigo escrito por:
Nyssio Ferreira Luz
Engenheiro Mecânico – UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
Especialista em Planejamento e Gestão – UFU – Univerdidade Federal de Uberlândia
Mestre em Logística de Transportes – UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
Conselheiro Empresarial – FDC.
Membro do CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals – USA;
Membro do GIE – Grupo de Intercâmbio Empresarial – Belo Horizonte – MG;
Membro da Comissão Técnica de Transportes da SME – Sociedade Mineira de Engenheiros
Membro da Câmara de Infraestrutura – FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais;
Experiência como executivo em empresas como VALEP, PETROFÉRTIL e Martins Atacadista Distribuidor
Consultor e diretor do IBRALOG – Instituto Brasileiro de Logística.
Twitter: @NyssioL